Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, o primeiro réu ouvido logo na abertura do julgamento às 9h55min, na 1ª Vara do Júri julga, no Fórum Clóvis Beviláqua, descreveu a ação. "Eles comentaram que pegaram um cara roubando. Eu fui com eles. Cheguei lá e a vítima já estava morta (...) Eu dei dois tiros", disse.
"Eu quero pedir perdão a toda família"
Questionado sobre o motivo de ter atirado, José Monteiro argumentou: "menino novo vai pela cabeça dos outros. Ela já estava morta. Cheia de sangue e tinha uma pedra ao lado". Diante de alguns familiares de Dandara, o primeiro réu ouvido pediu desculpas: "eu quero pedir perdão a toda família. Hoje, eu sigo Jesus e aprendi que a gente tem que ter amor no coração".
"Não cheguei em momento algum para matar"
O segundo réu, Jean Victor Silva Oliveira, também admitiu as agressões. Trabalhando como ajudante de pedreiro, junto com o pai, em uma residência vizinha ao local onde aconteceu crime, Jean Victor Silva avistou a movimentação e buscou identificar o motivo. "Falaram que ela estava roubando e não aceitam isso lá. Eu nem sei o que passou na minha mente para fazer isso".
Sem antecedentes criminais antes da morte de ´Dandara´, Jean Victor comentou: "não cheguei em momento algum para matar". Após agressões com uma tábua de madeira, Jean Victor disse que deixou o local.
Julgamento deve ser concluído na madrugada de sexta, prevê MP-CE
O julgamento de cinco dos oito acusados pela morte da travesti Dandara dos Santos ocorre um ano e um mês após o assassinato, e pode ser concluído na madrugada desta sexta-feira (6), segundo previsão do Ministério Público do Estado do Ceará (MP-CE). O caso ganhou repercussão internacional pela forma cruel em que Dandara foi morta - através de chutes, pedradas e tiros - e pela divulgação das imagens do crime na internet.
São julgados hoje os acusados:
Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, conhecido como ´Chupa Cabra´;
Jean Victor Silva Oliveira;
Rafael Alves da Silva Paiva (o ´Buiú´);
Isaías da Silva Camurça, o ´Zazá´;
Francisco Gabriel Campos dos Reis, o ´Didi´ ou ´Gigia´.
Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima) e na corrupção de menores.
Outros três acusados estão fora do julgamento de hoje
Júlio César Braga Costa também chegou a ser preso e indiciado pela participação na morte de Dandara, mas recorreu da decisão e aguarda a análise do recurso. A defesa do acusado questionou a qualificação do crime. De acordo com o advogado Sérgio Ângelo, Júlio César participou apenas das agressões contra a travesti e não estava presente no momento em que foram efetuados os disparos que causaram a morte da vítima.
Outros dois acusados de envolvimento no crime, Francisco Wellington Teles e Jonatha Willyan Sousa da Silva, o ´Lourinho Briba´, continuam foragidos.
Além dos oito adultos, quatro adolescentes foram apreendidos sob a suspeita de participar do assassinato da travesti. De acordo com o Ministério Público do Ceará (MPCE), os jovens receberam as medidas socioeducativas perante o Juízo da Vara da Infância e da Juventude de Fortaleza.
Manifestação
Enquanto o julgamento acontece a portas fechadas, um grupo de ativistas LGBT realiza um ato em frente ao local. Eles pedem por justiça não apenas para o caso de Dandara, como também para os outros 32 assassinatos cometidos contra a população LGBT no Ceará apenas no ano passado, de acordo com levantamento realizado pelo Centro de Referência LGBT Janaína Dutra.
O grupo pede ainda a instauração de políticas públicas de proteção aos LGBTs. "A gente tá aqui pedindo que o governo do Estado se comprometa em executar políticas públicas efetivas concretas para a garantia de cidadania, para a garantia do direito a vida das pessoas LGBT", afirmou o ator e militante Ari Areia.
Fonte: Diário do Nordeste