De acordo com a Funceme, a escassez de março foi causada por "fatores atmosféricos que dificultaram uma maior ocorrência de chuvas a partir da influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)" - que, segundo o Somar Meteorologia, "iniciou a atuação no período correto, ainda em fevereiro, mas teve distribuição bastante irregular".
As previsões para os próximos dois meses, que encerram a quadra chuvosa no Estado, também não são animadoras, divergindo entre os principais institutos de meteorologia do País. O supervisor da Unidade de Tempo e Clima da Funceme, Raul Fritz, ressalta que a Fundação "não faz previsão mensal", mas afirma que "os dados e modelos do momento indicam tendência de chuvas regulares em todo o Estado nas duas primeiras semanas deste mês".
O possível cenário é consonante com o que diz a Somar Meteorologia, segundo a qual deve "chover algo entre 150 e 200mm no centro-norte do Estado, em abril, e entre 100 e 150mm na faixa sul", um quantitativo considerado "próximo da normal" - já que a média histórica de chuvas no Ceará em abril, conforme a Funceme, é de 188mm. Ainda conforme a Somar, a primeira quinzena deste mês deve ter chuvas mais bem distribuídas, situação que muda na segunda parte do mês, quando "chove menos nas praias do noroeste cearense, próximo ao Maranhão".
Já o Climatempo, outra referência nacional em estudos climáticos, prevê uma conjuntura desfavorável à ocorrência de precipitações na Região Nordeste e, consequentemente, no Ceará. Conforme o meteorologista Alexandre Nascimento, "de um modo geral, teremos uma estação seca, porque o Pacífico está esquentando e o Atlântico resfriando, dois pontos negativos para a formação de chuvas. Então, há expectativa de redução de chuvas em abril em praticamente toda a Região".
Para o mês de maio, último da quadra chuvosa que se iniciou em fevereiro, a maioria das probabilidades aponta para pouca quantidade de chuvas. Apesar de não adotar previsão mensal, a Funceme relembra que, historicamente, a média de maio fica em torno de 90,6 milímetros, menor que as de março e abril - e que "o último mês de maio acima da média foi em 2011, com 50,2% de desvio positivo".
Segundo o meteorologista do Climatempo, "a chuva no Ceará, em maio, deve ser abaixo da média, já que toda a porção norte do Nordeste também tem expectativa de pouca chuva". A previsão da Somar, porém, é oposta: de acordo com o instituto, até o momento, há probabilidade de chuva "entre a média e acima da média na parte norte do Nordeste", o que seria favorável às precipitações em território cearense.
Conforme explica Nascimento, dois fenômenos são os principais responsáveis por formar chuvas na Região Nordeste: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e as "ondas do leste". Por outro lado, além da atuação favorável deles, como aponta Raul Fritz, uma combinação de três fatores facilitaria um "cenário ideal" para o aumento das chuvas no Ceará: "a continuidade do fenômeno La Niña até o restante da quadra chuvosa, temperaturas da superfície do Atlântico tropical mais aquecidas do que o normal no sul da Linha do Equador e menos aquecidas ao norte, além de condições atmosféricas que não dificultem a formação de chuvas".
A importância das temperaturas ideais nos oceanos também é salientada pela Somar Meteorologia, segundo a qual "a água do mar ligeiramente mais quente do que o normal na costa poderia facilitar o desenvolvimento de tempestades no norte do Estado e em Fortaleza". Já para o sertão, aponta o instituto, "algumas instabilidades tropicais podem trazer chuva ao longo do mês, porém ainda mal distribuídas". Segundo a Funceme, o último mês de abril acima da média (102,3%) foi o de 2009.
Imprevisíveis
Apesar das tentativas de antevê-los, os períodos de falta de chuvas que tanto afligem os cearenses tendem a ser cada vez mais imprevisíveis e constantes, de acordo com o meteorologista e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Humberto Barbosa. "A seca é natural, cíclica, e já foi mais previsível. Mas a população e os serviços estão aumentando, e isso traz uma complexidade à região do Semiárido. Com o processo de mudanças climáticas, temos muita incerteza quanto às precipitações, e isso vai trazer secas com maior frequência", destaca.
Segundo Barbosa, coautor do livro "Um século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram o Semiárido brasileiro?", a seca atual pode não ser a mais severa, mas é a mais longa já registrada historicamente no Nordeste, "por serem quase sete anos consecutivos".
Para o escritor e meteorologista, as intervenções humanas e a "falta de manejo e conservação dos solos e dos recursos hídricos" contribuem para uma frequência maior dos intervalos de escassez.
"O meio ambiente é o principal componente de interação com a atmosfera, não temos como dissociar esses impactos ambientais das alterações no clima. É muito claro que a intensidade e a rapidez dessas mudanças já refletem nos nossos padrões climáticos", analisa Barbosa.
fonte DN