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Caso se repete: detentos em posse de armas matam rivais Pouco mais de um mês após um tiroteio, que causou a morte de dez presos, em Itapajé, o episódio se reproduz





Três revólveres, calibre 38, e diversas facas artesanais, que estavam na posse dos internos, acabaram apreendidos pela Polícia Militar ( FOTO: VC REPÓRTER )



No fim da tarde, começou uma intensa operação para recambiar dezenas de presos. Segundo a Sejus, 25 internos foram transferidos ( FOTO: KID JÚNIOR )

Armas de fogo, tiros, mortes. O cenário, de forma nenhuma, deveria ser parte da rotina de uma unidade prisional. Mas foi o que aconteceu, ontem, na Cadeia Pública de Pentecoste. A guerra entre facções criminosas fez mais vítimas: dois detentos foram assassinados e nove ficaram feridos, sendo dois em estado grave. O episódio aconteceu pouco mais de um mês depois da execução a tiros de dez presos, na Cadeia de Itapajé.




Segundo o defensor público Emerson Castello Branco, que esteve em Pentecoste, internos de uma cela atiraram contra rivais que estavam no banho de sol, no pátio da Cadeia, por volta de 10h. Onze presos foram alvejados. Para ele, a carnificina poderia ter sido maior, se uma agente penitenciária não tivesse intervindo. Apenas ela e outro servidor trabalhavam na unidade, no momento dos disparos. Seria um dia de visita aos internos, mas foi cancelada.




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"Os levantamentos ainda estão sendo realizados, mas as informações, por enquanto, é que foi, mais uma vez, confronto entre facções em Cadeia Pública, repetindo o que tinha acontecido em Itapajé, com a diferença que essa foi uma tragédia de uma proporção menor, porque uma agente penitenciária, de forma heroica, interveio. Foi fundamental para evitar a morte de dez presos", afirmou o defensor.




A reportagem apurou que os presos que dispararam os tiros são ligados ao Comando Vermelho (CV), enquanto os alvos são ligados às facções Guardiões do Estado (GDE) e Primeiro Comando da Capital (PCC). O crime é investigado pela Delegacia Municipal de Pentecoste.




De acordo com a PM, todos os detentos baleados foram retirados do prédio com vida e levados a unidades de saúde. Entretanto, dois deles não resistiram às lesões: Glaydson Vieira da Silva, de 25 anos; e Nicolas Matheus Soares Marreira, 18.




Os dois que sofreram os ferimentos mais graves foram levados ao Instituto Doutor José Frota (IJF), por uma aeronave da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). Um deles passou por um procedimento cirúrgico, mas seu quadro ainda é grave. Ainda conforme a Pasta, cinco detentos permanecem em atendimento hospitalar e dois já retornaram à unidade prisional.




A Polícia Militar entrou na Cadeia Pública e negociou, por alguns minutos, a rendição dos detentos armados. Três revólveres calibre 38, que estavam na posse dos internos, acabaram apreendidos. Após controlar a situação, a Polícia levou cinco suspeitos para prestarem esclarecimentos na Delegacia Municipal. O delegado se recusou a conceder entrevista sobre o assunto.




Transferência




A ocorrência alterou a rotina dos moradores do Município. A população se aglomerou na Rua Agapito Cordeiro, desde que aconteceu o tiroteio. A esposa de um detento, que não quis se identificar, permaneceu, por horas, atrás da fita de isolamento colocada pela Polícia, na espera por notícias do marido.




No fim da tarde, começou uma operação para recambiar dezenas de presos. Alguns detentos chegaram à Cadeia Pública de Pentecoste, enquanto outros saíram do estabelecimento. Segundo a Sejus, 25 internos foram transferidos para unidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).




De acordo com a Polícia Militar, a unidade custodiava 63 presos até o dia de ontem. A capacidade do prédio não foi divulgada pela Sejus. Uma vistoria nas celas havia sido realizada no dia anterior ao duplo homicídio. Na ocasião, foram encontrados 13 celulares, dez carregadores telefônicos, uma faca artesanal e uma ferramenta utilizada para escavar terra.




Contudo, as armas de fogo utilizadas no crime não foram apreendidas a tempo. Emerson Castello Branco atestou que, em uma das celas, havia um buraco no teto. Segundo ele, a estrutura da Cadeia é precária, como na maioria dos estabelecimentos prisionais do Estado. "As Cadeias Públicas estão destruídas, não têm condição nenhuma de presos continuarem nelas".




O representante da Defensoria Pública do Estado afirmou que o órgão irá procurar dar assistência social aos familiares dos presos e entrar com processos contra o Estado, para indenizar financeiramente essas pessoas, além de requerer a retirada de todos os presos das cadeias públicas do Estado.




Visitas suspensas




No Diário Oficial do Estado (DOE), do último dia 6, a Sejus já havia suspendido, por 30 dias, as visitas em dez cadeias públicas da Região Centro Sul temendo ações de facções criminosas e alegando, entre outros motivos, a superlotação. Os equipamentos em que as visitas foram suspensas estão localizados nos municípios de Acopiara, Cedro, Icó, Iguatu, Ipaumirim, Jucás, Lavras da Mangabeira, Mombaça, Orós e Várzea Alegre.




A Pasta levou em consideração "a superlotação do Sistema Penitenciário Cearense e as ações orquestradas pelas facções criminosas", como a morte do agente penitenciário Carlos Antônio Bezerra, na última sexta-feira (2), em Orós. Além disso, a medida teria sido tomada diante da "ausência de infraestrutura adequada nas unidades prisionais" e a "carência de recursos humanos para manutenção da ordem e garantia da segurança penitenciária.




Itapajé




Um episódio semelhante ao ocorrido, ontem, havia sido registrado na Cadeia Pública de Itapajé, em 29 de janeiro deste ano. Como em Pentecoste, detentos ligados à facção Comando Vermelho assassinaram membros da GDE e do PCC, utilizando armas de fogo. Da primeira vez, a matança foi ainda maior: dez vítimas, além de oito feridos.




Apenas um agente penitenciário trabalhava no local no momento em que os detentos começaram o tumulto e, ao ver a rebelião, o profissional deixou o estabelecimento para pedir ajuda. Neste meio tempo, a carnificina foi sacramentada. A Polícia Civil elucidou o caso , chegando à motivação e ao indiciamento dos autores da chacina.
FONTE DN



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