Foram divulgados na sexta-feira (13) trechos das gravações dos depoimentos da delação premiada de Funaro. Em um deles, o operador financeiro faz acusações sobre a existência de um suposto esquema de propina envolvendo o presidente Michel Temer, aliados dele e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os vídeos foram divulgados no site do jornal "Folha de S.Paulo".
A nota, assinada por Eduardo Pizarro Carnelós, advogado de Temer, afirma que o vazamento “tem o claro propósito de causar estardalhaço com a divulgação pela mídia como forma de constranger parlamentares que, na CCJC [Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania] da Câmara dos Deputados, votarão no dia 18 o muito bem fundamentado parecer do relator, deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição ao pedido de autorização para dar sequência à denúncia apresentada contra o Presidente Michel Temer pelo ex-Procurador-Geral da República” (veja a nota na íntegra ao final da reportagem).
Os depoimentos de Funaro foram usados pela Procuradoria Geral da República na denúncia apresentada por obstrução de Justiça e organização criminosa apresentada contra Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
Segundo o Blog do Camarotti, a avaliação no governo é de que, apesar do conteúdo já ter sido usado para a elaboração da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, a imagem de Funaro relatando o esquema da cúpula do PMDB da Câmara terá impacto na opinião pública e será explorado pela oposição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Funaro, apontado como operador do PMDB, conta ainda nos vídeos os motivos de ter ido ao escritório do advogado José Yunes, amigo de longa data e ex-assessor do presidente Temer, para pegar R$ 1 milhão, que teriam de ser entregues ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, em Salvador (BA).
"O que eu soube, pelos fatos que vivenciei, foi que em 2014, o Geddel me ligou e me informou que tinha um dinheiro que ele precisava retirar em São Paulo, oriundo da Odebrecht. E que precisava que esse dinheiro fosse levado pra Salvador. E me perguntou se eu podia fazer esse favor pra ele. E eu respondi que podia fazer esse favor pra ele, que não teria problema nenhum", disse o doleiro à PGR.
Em outro depoimento, também em vídeo, Funaro fala sobre a atuação do deputado cassado Eduardo Cunha, a quem era muito ligado. Funaro conta que o peemedebista era uma espécie de "banco" para os corruptos.
O doleiro, que está preso desde junho de 2016, fechou acordo de delação, que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda em sua delação, Funaro conta que o então vice-presidente Michel Temer estava "empenhado" para eleger Gabriel Chalita prefeito de São Paulo, em 2012. Nos relatos registrados em vídeos, o doleiro citou pagamento de propina, pedido de apoio feito por Temer e o empréstimo de seu helicóptero pessoal para campanha de Chalita.
Segundo Funaro conta nos vídeos, Temer estava "empenhado" na tentativa de eleger Chalita, à época no PMDB, prefeito de São Paulo. Funaro relatou que pediu ao empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F, que controla o frigorífico JBS, a doação de R$ 3 milhões a campanha de Chalita. De acordo com o doleiro, o repasse foi descontado da “conta corrente” que ele mantinha junto a Joesley, relacionada a operação ilícitas.
O que disseram os citados
Em nota, Gabriel Chalita afirmou que os recursos da campanha de 2012 vieram do PMDB nacional e que o partido foi responsável pela arrecadação. Chalita ainda disse que deixou o PMDB há dois anos e que nunca teve relação com Lúcio Funaro.
O advogado de José Yunes disse em nota que "Lúcio Funaro já faltou com a verdade em inúmeras oportunidades".
"José Yunes, ao contrário de Funaro, goza de credibilidade. Tão logo esses fatos ficaram públicos procurou a PGR e prestou todos os esclarecimentos devidos. "Yunes teve seus argumentos acolhidos pelo Ministério Público tanto que jamais foi denunciado, mas sim arrolado como testemunha de acusação. É importante registrar que Funaro será processado por denunciação caluniosa pelo meu cliente", disse a defesa de Yunes.
A defesa de Eduardo Cunha disse que, em busca de benefícios, Funaro atribui a outros a participação e cumplicidade em seus atos ilícitos.
A defesa de Geddel Vieira Lima disse que não se manifesta sobre o que não teve acesso, "sobretudo de réus delatores que são inexplicavelmente soltos quando começam a mentir".
Leia a íntegra da nota divulgada pela defesa do presidente Michel Temer:
O vazamento de vídeos com depoimento prestado há quase dois meses pelo delator Lúcio Funaro constitui mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito. Tem o claro propósito de causar estardalhaço com a divulgação pela mídia como forma de constranger parlamentares que, na CCJC da Câmara dos Deputados, votarão no dia 18 o muito bem fundamentado parecer do relator, deputado Bonifácio de Andrada, cuja conclusão é pela rejeição ao pedido de autorização para dar sequência à denúncia apresentada contra o Presidente Michel Temer pelo ex-Procurador-Geral da República.
É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa. Só isso explica essa divulgação, ao final de uma semana em que a denúncia formulada pelo ex-Chefe do MPF foi reduzida a pó pelo parecer do deputado Bonifácio de Andrada.
Autoridades que têm o dever de respeitar o ordenamento jurídico não deveriam permitir ou promover o vazamento de material protegido por sigilo. É igualmente inaceitável que a imprensa dê publicidade espetaculosa à palavra de notório criminoso, que venceu a indecente licitação realizada pelo ex-PGR para ser delator, apenas pela manifesta disposição de atacar o Presidente da República.
As afirmações do desqualificado delator não passam de acusações vazias, sem fundamento em nenhum elemento de prova ou indiciário, e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, que já o desmentiu e o fez de forma inequívoca, assegurando nunca ter feito tais afirmações. Assim como o fizeram todos os demais mencionados pelo delator em sua mentirosa história, que lhe serviu para a obtenção de prêmio.
Eduardo Pizarro Carnelós
Fonte: G1