Banabuiú. As chuvas dos primeiros dias de 2017, fenômeno típico da pré-estação, já trazem uma modesta esperança ao cearense ao começar a interferir positivamente no acúmulo dos açudes do Estado. Segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), no último mês foram registrados aportes em 64 açudes.
Só na última quarta-feira (12) foram sete aportes: Gameleira, em Itapipoca; Maranguapinho, em Maranguape; Cauhipe, em Caucaia; Malcozinhado, em Cascavel; Mundaú, em Uruburetama; Catucinzenta, em Arneiroz; e Cachoeira, em Aurora.
Vale destacar, no entanto, que essas recargas, insignificantes em termos numéricos, em nada mudam a escassez hídrica que o Ceará enfrenta. Tanto que o número de açudes em volume morto aumentou de 48 para 49. O Tigre, em Solonópole, passou a essa categoria na última semana. Atualmente, conforme o Portal Hidrológico, 36 açudes estão completamente secos.
O cenário é preocupante e desolador. Aonde era para existir água em abundância, chão rachado. Seco desde agosto do ano passado, o Açude do Cedro, construído entre os anos de 1890 e 1906, é um retrato fiel da situação dos demais 152 reservatórios cearenses monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Ele foi a primeira obra para fins de abastecimento no Brasil.
Nível atual
Segundo os dados da Cogerh, o nível atual dos açudes é de apenas 6,5%, quase a metade do registrado há exatamente um ano, quando os reservatórios cearenses somavam 12,8% da capacidade. O atual volume representa apenas 1,2 bilhões de m³ dos 18,6 bilhões de m³ totais. Apesar da diferença de nível, se comparado a janeiro de 2016, o número de açudes com capacidade inferior a 30% permanece o mesmo: 136.
A situação, que já é crítica, pode piorar ainda mais. Conforme o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, se não chover pelo menos a média histórica durante a quadra de fevereiro a maio, o Estado passará a depender de reservatórios estratégicos, como o Orós, Araras, Pedra Branca e Arneiroz 2. "Dentre as 12 bacias, temos algumas que são estratégicas. Preservamos a água de alguns açudes para utilizá-la em momentos como este, de baixo aporte hídrico", pontuou.
Desde o ano passado o Castanhão, maior reservatório cearense e que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), tem recebido aporte do Orós. Conforme Lúcio Farias, a liberação de 16 mil litros/segundo será mantida até 1º de fevereiro. "No próximo mês, a gente volta a se reunir com o Comitê de Bacias para definir uma nova vazão do Orós para o Castanhão", explicou. Ainda segundo ele, mesmo sem o suporte do Orós, o Castanhão ainda não teria atingido seu volume morto.
Apesar da afirmação, o quadro é preocupante. O reservatório perdeu mais da metade de sua capacidade nos últimos 12 meses. Em janeiro de 2016, o volume acumulado era de 10,51%. Hoje, a capacidade é de apenas 5,02% dos 336,48 milhões de m³ de água. Quanto ao Orós, os índices caem drasticamente. Além da escassez de chuva, o reservatório está soltando água para abastecer o Castanhão. No último ano, a redução foi de 33,02% para 13,45% neste mês.
Medidas
João Lúcio explica que o Estado, tem realizado diversas medidas "para minimizar os impactos da seca". "Para auxiliar o abastecimento, estamos nos valendo de adutoras de rápida montagem para transferência de águas em longas distâncias; perfurações de vários poços e controle", diz. Segundo o órgão, em 2015, foram realizados mais de 1.500 ações e, no ano passado, mais de duas mil.
"As ações envolvem perfuração de poços, instalação, injetamento deles poços nas redes dos municípios, colocação de chafarizes para utilizar a água subterrânea, dentre outros", acrescenta, ao ressaltar que, "apesar da seca prolongada, não há nenhum município do Estado em colapso hídrico. O que existe são situações críticas".
O presidente, entretanto, reconhece que, caso 2017 seja mais um ano com chuvasabaixo da média, as ações terão que ser intensificadas.
"Há também racionamento em áreas de irrigação. No Vale do Curu e Vale do Acaraú, por exemplo, há paralisação total de irrigação. Na RMF, há economia de 20% no setor industrial. Porém, sem chuva, todas elas deverão ser intensificadas", concluiu.
Fonte diário do nordeste