Francisco Brandão, chefe do núcleo de sismologia da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (CEDEC), explica que, em qualquer desastre natural, o batismo de um evento sísmico acontece em função da proximidade do local com o maior contingente populacional. Neste caso, foi a cidade de Pacajus, que contava com 46.976 habitantes, incluindo Chorozinho, então distrito do município, vindo a emancipar-se sete anos depois. Por isso, a confusão.
Ainda sobre a ocasião, o especialista em sismologia, que fez uma pesquisa no local durante o fenômeno, reforça que não houve óbito. No entanto, diz que teve vítimas de toda ordem. “Houve pessoas com clavícula e nariz quebrados, além de incêndios. Nos anos 80, ainda tinha geladeira que era movida a querosene e, quando o eletrodoméstico caiu, devido ao tremor, automaticamente pegou fogo. O Governo do Estado montou barracas para dar assistência à população, além de também recuperar as casas no local do epicentro. O terremoto foi em um raio de 600km. Chegou lá em Teresina, no Piauí”, contou ele.
Terremotos acontecem duas vezes no mesmo lugar, é só uma questão de tempo”
Francisco reforça que o “terremoto de Pacajus” pode ser considerado mediano. Um tremor de terra no Chile, em 1960, com 9,5 de magnitude na escala Richter, foi o maior já registrado na história. Ele ainda explica que é pouco provável que aconteça um tremor de terra no Ceará igual aos do Japão. “Nós estamos no centro das placas tectônicas sul-americanas. O Japão é diferente. Ele está na borda da placa, ou seja, é uma questão de localização. Na borda, o que acontece são placas se chocando. No choque, acontecem os maiores tremores. Ao passo que, no centro, as magnitudes são menores. O centro é um reflexo do que acontece na ponta, que aí são formadas as falhas geológicas no interior. Existem várias placas tectônicas na Terra. Somente no território japonês são quatro placas se chocando umas com as outras. Lá é esperado um tremor de terra jamais visto. Tanto lá como nos Estados Unidos, na área da Califórnia, acima de 9,5 na escala Richter”, alerta.
Sobral: mais tremores
Atualmente, Sobral é o município cearense que tem mais tremores. Entre 2008 e 2012, quase quatro mil tremores aconteceram no local. Já o primeiro terremoto registrado no Ceará aconteceu em 1807, no município de Pereiro. O mais interessante desse caso é que, 161 anos depois, houve uma ocorrência, o que reforça uma regra básica da sismologia, que diz que, onde ocorreu um terremoto uma vez, outro tremor de terra poderá voltar a acontecer a qualquer hora do dia ou da noite.
“O sismólogo luta para encontrar uma fórmula para descobrir como prever o terremoto, mas ainda não conseguiu. É aí que entra o viés da Defesa Civil, que tem como objetivo preparar a população para o fenômeno, já que, no Nordeste, o Ceará é o Estado com maior atividade sísmica. Costumo dizer que o terremoto, nas nossas ‘bandas’, pode causar, no mínimo, um grande susto”.
FONTE DIÁRIO DO NORDESTE.
NO ESTADO DO CEARÁFORAM IDENTIFICADAS REGIÕES SÍSMICAS EM 39 MUNICÍPIOS
No Brasil, as manifestações sísmicas ocorrem basicamente em função do rompimento de rocha no interior da terra. Os abalos são de menores proporções, diferentes dos que acontecem em outras partes do mundo, causados pelo choque das placas tectônicas, em suas respectivas bordas. Entre 25 de março de 2015 e 14 de março de 2016, houve 15 terremotos em municípios cearenses. Em Irauçuba, no dia 25 de dezembro de 2015, aconteceu o tremor de maior magnitude, com 3,8 na escala Richter.
Fonte: Defesa Civil
Terremoto também chegou em Fortaleza
Uma das minhas filhas era recém-nascida, tinha menos de um mês. Morávamos em uma casa na rua João Emídio da Silveira, no bairro Dionísio Torres, e eu tinha acabado de amamentá-la. Deitei na cama, comecei a cochilar e despertei com um barulho parecido com um trator. A minha cama balançava. Acordei o meu marido, achando que ele estava se movimentando demais, e, de repente, os vidros e janelas começaram a bater, pareciam que iam quebrar. Levantamos e corremos para o quarto das meninas, o chão tremia muito. Depois de um tempo, os tremores foram parando. Foi uma noite inesquecível. Jamais esquecerei o susto que passamos”.
Marilena Campos
Marilena Campos
“Morava na Avenida Antônio Sales, em uma casa. Era para eu estar sozinha no quarto naquela noite, mas minha irmã tinha vindo nos visitar, ela morava em Brasília. De madrugada, ainda conversando, tudo começou a tremer e saímos correndo desesperadas de camisola para fora de casa. Quando passamos pela sala, o lustre parecia que ia cair do teto. Do lado de fora, as pessoas mandaram a gente ir para o meio da rua por segurança, pois o poste de energia poderia cair em cima de nós duas. Dezenas de pessoas estavam fora de suas casas, sem entender o que estava acontecendo. O engraçado é que nosso pai não acordou em nenhum momento e só soube do acontecido depois. A moça que trabalhava na nossa casa não conseguiu sair do seu quarto, pois trancamos a porta e esquecemos dos dois. Quando voltamos, a encontramos desesperada. Só no outro dia descobrimos que o susto, na verdade, era um terremoto”.
Zeneida Jacques
Zeneida Jacques