Além da contaminação do solo por substâncias orgânicas, inorgânicas ou micro-organismos, capazes de transmitir diversas doenças, os cemitérios irregulares ou clandestinos existentes no Interior do Ceará representam um desrespeito aos princípios cristãos, de zelo e descaso pelos restos mortais dos entes que se foram. Demonstram, ainda, um descalabro à saúde pública e ao meio ambiente.
Levantamento da Secretaria da Saúde do Ceará, realizado de 2010 a 2011, constatou que de 1.792 locais de sepultamento no Estado, apenas 539, pouco mais de 30%, podem ser considerados em situação legal. Os óbitos não computados comprometem o Sistema de Informação sobre Moralidade (Sim) do Estado. Se aplicada a legislação do Código Penal e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), esse percentual certamente se reduz a quase zero.
A reportagem percorreu seis municípios (Amontada, Barroquinha, Crateús, Granja, Nova Russas e Santa Quitéria) para mostrar a situação desses cemitérios e constatou que o cenário é ainda mais grave.
Além da superlotação, comum a quase todos, outras irregularidades são patentes. Em Amontada, na Praia do Icaraí, espaço aberto que recebe enterros há um século é invadido pelo mar. Os corpos são deixados a qualquer hora. Não há controle nem vigilância dos enterros. Já a tradição de sepultar os "anjinhos" em covas rasas ainda perdura, como na comunidade Nova Betânia, em Santa Quitéria.
Por trás de cada campo clandestino, surge uma história que mescla martírio, misticismo, religião e crendice, o que torna o fechamento deles quase impossível. Prefeituras alegam essa questão e a falta de recursos para adotar providências cabíveis.
FONTE DIÁRIO DO NORDESTE.