A irmã de Luana Barbosa dos Reis, morta em Ribeirão Preto (SP) após suposta agressão de policiais militares durante uma abordagem, afirma que houve discriminação por parte dos soldados porque Luana, de 34 anos, era negra, lésbica e morava na periferia.
“Foi uma abordagem como tantas outras que acontecem no Brasil, baseada em um racismo institucional, no preconceito, na discriminação, na lesbofobia. A gente que é pobre, negro, da periferia, sabe que a abordagem é diferente”, disse a professora Roseli Barbosa dos Reis.
O caso ocorreu na noite de 8 de abril, quando Luana levava o filho a um curso, segundo a família. Os dois estavam em uma moto e foram parados na rua de casa, no Jardim Paiva. A vítima não permitiu ser revistada, exigindo a presença de uma policial e, de acordo com relato da irmã, foi agredida.
A Polícia Militar alega que os agentes foram desacatados por Luana, abordada porque havia um jovem na garupa da moto que ela pilotava e que desceu e saiu correndo, "causando desconfiança" na equipe em patrulhamento.
PMs acusados
Após a morte da irmã, Roseli passou a morar com a mãe, o sobrinho – filho de Luana – e outro irmão. Apesar de conhecer pouco o bairro, na zona norte de Ribeirão, a professora disse que já ouviu relatos de vizinhos sobre as abordagens agressivas da PM no local.
Após a morte da irmã, Roseli passou a morar com a mãe, o sobrinho – filho de Luana – e outro irmão. Apesar de conhecer pouco o bairro, na zona norte de Ribeirão, a professora disse que já ouviu relatos de vizinhos sobre as abordagens agressivas da PM no local.
Quando a gente vê o que aconteceu, da forma como foi, sendo morador de periferia, não tem como não pensar em preconceito, em discriminação, na segurança da impunidade. Para fazer uma coisa dessas, eles devem estar seguros de que nada vai acontecer”, afirmou.
A professora também questionou a justificativa apresentada pela PM, de que Luana agrediu os policiais. Durante o registro de um termo circunstanciado na delegacia, um dos soldados disse ter sofrido ferimentos na boca e o outro uma lesão no pé.
“Ela foi espancada, o laudo confirmou o espancamento. Paradoxalmente, a agressora foi quem saiu com um pedido de exame de corpo de delito, feito pela Polícia Civil. A agressão deles, a gente não soube, eu não vi, não consigo entender”, afirmou.
Espancamento
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) divulgado nesta segunda-feira (2) comprovou que Luana morreu em decorrência de isquemia cerebral e traumatismo crânio-encefálico causados por espancamento. O documento aponta ainda uso de agente contundente.
Uma testemunha que preferiu não se identificar contou que os PMs agrediram Luana com cassetetes e descreveu a cena como “terrorismo”. A mulher prestará depoimento essa semana, segundo o delegado Eurípedes da Silva Stuque, que chefia a investigação do caso.
Stuque afirmou nesta terça-feira (3) que apenas a irmã de Luana e um cunhado foram ouvidos. Os policiais militares que participaram da abordagem serão os últimos a depor, ainda de acordo com o delegado.
Desacato
Em nota, o tenente coronel da PM Francisco Mango Neto explicou que policiais militares faziam patrulhamento pelo bairro Jardim Paiva e decidiram abordar Luana, ao avistar a motocicleta dela parada e o garupa sair correndo, o que causou desconfiança.
"Participaram da abordagem três policiais, sendo necessário o uso da força, uma vez que a senhora Luana mostrou-se muita exaltada e resistiu à revista pessoal, sendo conduzida ao Plantão Policial por lesão corporal e desacato", informou.
Ainda segundo Mango neto, os policiais respondem a Inquérito Policial Militar, que apura os fatos. A investigação interna deve ser concluída em 45 dias.
G1
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