18 de janeiro de 2016
Trecho de entrevista com Michel Temer (PMDB), vice-presidente da República, publicada na edição de domingo (17) do jornal O Globo:
Por falar em adversários, como o senhor reage aos ataques do ex-ministro Ciro Gomes?
Curioso, você é a primeira pessoa que me pergunta sobre esse assunto. Quase ninguém dá importância ao que ele fala. Ele é um desarranjado de ideias. Eu nunca darei a ele a honra da minha resposta. Prefiro o caminho da Justiça.
Impressões
O tom da resposta pode até soar compreensível em razão de questões pessoais entre Ciro e Temer, mas é inapropriada para uma autoridade.
Alvo de inúmeros ataques de Ciro Gomes, o vice de Dilma já foi chamado de “capitão do golpe” e de “chefe de um ajuntamento de assaltantes”. A agressividade incomum e a tentativa de menosprezar o adversário mostram que Temer se incomoda muito com a opinião do adversário, ao contrário do que tentar fazer parecer.
É bem verdade que a opinião de Ciro já foi mais influente nos debates nacionais – e mais disputada pela imprensa -, mas não se trata de anônimo, pelo contrário. Tanto é assim que a pergunta foi feita pelo O Globo. Fosse um qualquer, seu nome não estaria ali pautado. Temer perdeu uma boa oportunidade de falar, por exemplo, sobre os cuidados que ele mesmo ou a presidente Dilma deveriam ter com conselheiros que atiçam a intriga. Pelo menos seria mais elegante, mas o estômago falou mais alto.
Nessa briga, nada de fundamental é discutido com responsabilidade, num momento tão complicado para o Brasil. Por último, é curioso ver como Ciro e Temer se desprezam tanto, acusam tanto um ao outro de não prestarem, que chega a ser difícil entender como continuaram por tanto tempo aliados da presidente Dilma, sem que um não pulasse do barco acusando a presidente de andar em má companhia. Fica parecendo uma versão masculina da famosa briga de comadres, com o risco de sugerir ao público que no fim das contas os dois têm razão.
TRIBUNA DO CEARÁ.