Os sentimentos no seio da tropa da Polícia Militar estão divididos. Enquanto para alguns o momento é de empolgação e reconhecimento pelas promoções que deverão ocorrer nos próximos dias, para outros, a fase é de decepção e desestímulo. Muitos PMs que aguardavam ansiosos suas novas divisas ou estrelas, tiveram seus nomes inexplicavelmente excluído da lista dos que receberão novas patentes e graduações.
A desagradável surpresa veio na última sexta-feira (12), quando foi publicada a mais recente versão do Boletim do Comando Geral (BCG). Nele, foram publicados os nomes de todos os militares que serão promovidos nas solenidades já marcadas para os próximos dias e que serão realizadas na Capital e Interior.
Sem qualquer informação ou aviso prévio, vários policiais militares foram retirados da lista. A exclusão seria pelo fato de muitos estarem, no momento, respondendo a processos administrativos disciplinares (PAD) ou criminais por conta de atos praticados no exercício do trabalho. Segundo alguns, isso contraria a Lei das Promoções, cujo projeto tramitou na Assembleia Legislativa e recebeu mais de uma centena de proposta de emendas.
No fim de semana, nas redes sociais, dezenas de policiais militares se manifestaram diante de sua exclusão da lista dos que serão promovidos nos próximos dias. Alguns se disseram revoltados e prometeram atitudes radicais, como pedir exoneração de seus cargos. Outros postaram mensagens em forma de desabafo.
Veja a seguir, a transcrição do desabafo de um PM postado nas redes sociais no domingo:
“LÁGRIMA DE UM PM”
“Ontem, fiquei muito triste quando olhei a relação dos policiais militares que serão promovidos e vi que o meu nome não constava. Senti naquele momento o chão desabar e toda a minha empolgação em vestir a túnica branca ir por água abaixo. Logo, eu, que dediquei mais de 30 anos a uma instituição militar que tanto amo e, de repente, me ver traído por ela. Já tinha comprado, com muito esforço, a minha farda de gala e, todas as noites, sonhava com a solenidade e eu desfilando juntamente com os meus companheiros, para orgulho de nosso familiares e amigos; e pensava ansioso na hora da madrinha colocar minha nova graduação. Tudo isso foi somente um sonho quando li aquela relação. Fiquei desapontado, chorei até secar minhas lágrimas. Me senti como um noivo abandonado no altar.
Aí, pensei: o que eu foz de mal à minha gloriosa PM para merecer ser tratado como um “nada”, para passar por tanta angústia? Logo eu, que doei parte da minha vida para salvar vidas, para promover a paz social, para muitas das vezes ser chamado de herói, quando, arriscando minha vida, trocava tiros com bandidos. Logo eu, que sempre procurei me pautar na dignidade e no decoro para não envergonhar minha gloriosa. Logo eu, que passei várias e várias noites acordado, velando o sono da sociedade. Logo eu, que muitas vezes fui convocado, mesmo estando de folga, para apoiar operações policiais. Logo eu, que, em virtude da minha profissão, já fui alvo de balas de marginais. Mas, após uma breve reflexão na leitura daquele informativo policial (boletim do Comando Geral), vi que é porque respondo a um processo criminal. Processo este que foi contraído em um enfrentamento com bandidos. Ora, na nossa profissão policial quem não tem processo em função do trabalho ou tem muita sorte ou é omisso.
Depois da reflexão passou a tristeza e veio a indignação por saber que fiquei de forma exatamente por conseqüência da missão. Acho que poderia ser diferente, pois deveríamos ser mais valorizados. Hoje, eu e dezenas de guerreiros estamos desapontados e desestimulados, mas iremos seguir em frente com o mesmo garbo, com o mesmo dinamismo e compromisso com a causa da segurança pública. Afinal, a sociedade não pode pagar pelo preço da injustiça. Fiquem com Deus e orem por nós”.
PLANTÃO DO CEARÁ